terça-feira, 25 de maio de 2010

das ditaduras democrática

ok eu sumi por muito tempo, nesse intervalo pra variar viajei, entrei num emprego, saí, voltei, cometi bobagens e não cheguei a ser herói (como a grande maioria de vocês jamais serão). esse blog não quer tratar das loucuras internas, mas das externas, então paremos de conversa e vamos ao trabalho:

Artur Barrio


Rio Arrudas - BH / MG


SITUAÇÃO T/T1 (2a parte), 1970
ação / intervenção urbana


nos últimos meses venho acompanhando um curioso fenômeno observável em algumas nações e regimes ditos democráticos. trata-se da confusão entre a mera existência de eleições e a noção de democracia. não é uma abordagem nova, mas no momento está em ascensão no mundo. não tenho dúvidas de que eleições diretas e universais são importantes instrumentos da democracia, mas até que ponto isso vem legitimando discursos que ferem a construção democrática das sociedades?

pra começo de conversa dizem que é importante definir o conceito. então, o que seria uma democracia? a verdade é que esta curiosa invenção humana não é uma noção facilmente delimitável e que isso é conseqüência de alguns dos melhores pressupostos do próprio telos democrático - http://pt.wikipedia.org/wiki/Telos_(filosofia).  em lugar de delimitar falemos por meio de exemplos, bons e ruins. aceite-se aqui a minha noção tão torta e maniqueísta quanto útil, o blog é meu afinal.

sarkozy tenta proibir o uso de burcas na frança, com a imposição de pesadas multas a quem desrespeitar a lei. creio que assim ele age de modo antidemocrático e invasivo, ataca a liberdade de credo ou mesmo a simples liberdade de uma pessoa escolher como deseja se vestir em uma festa à fantasia. imposição digna de um monarca absolutista e possivelmente algo para distrair a população de algum tema mais sério que afete o país, felicitando favoráveis e irritando contrários à questão, um passatempo maquiavélico. naturalmente, pelos próprios preceitos da república francesa, um marido não pode ter o direito de obrigar sua mulher a se vestir de tal ou qual maneira. se este fosse o limite das novas regras, ainda que com todas as complexidades envolvidas na questão, sinto que a lei estaria de acordo com a liberdade individual tão pregada no país do croissant desde o século das luzes, época em que a frança era mais dada a pães e brioches. a mulher que por vontade própria preferir se mostrar apenas ao marido não deveria ser impedida de fazê-lo, ainda que no seu documento de identidade tenha que colocar uma foto de rosto. a separação tão clara quanto possível entre público e privado, entre estado laico e religião seria melhor preservada e seguiria inspirando outras nações e outras leis rumo à uma situação menos repressiva no mundo ao longo dos anos se a direita evitasse ser psicopata e a esquerda neurótica.
sobre burcas e sarkozy:
sobre eleições e crise da frança
  
no país onde todo mundo diz que é de centro-esquerda (aquela nação que só anda calçada quando está de chuteiras) imprensa e boa parte da elite dirigente ignoram um fenômeno como a candidatura de marina silva  , em minha opinião situação semelhante de hipocrisia de distorção do jogo democrático. venho observando o ocorrido em abordagens jornalísticas como a da revista época, que criou um blog para acompanhar os candidatos dilma roussef e josé serra, e nenhum outro. há desrespeito à democracia na polarização pressionada entre pt e psdb que ignora fatos importantes. marina, em um partido de pequena expressão numérica, sem grandes espaços de exposição ou militância, possui apoio de cerca de 10% dos eleitores em um país de 200 milhões de pessoas. ignorá-la é ignorar a opinião de cerca de 20 milhões de pessoas, ou aproximadamente o estado de minas gerais. seria democrático negar espaço a uma parcela tão significativa da população? população que se posiciona assim de modo espontâneo. além desse absurdo os outros candidatos de partidos ainda mais nanicos simplesmente são desconhecidos e praticamente não tem chance de oferecer propostas e falar a grandes grupos da população, ciro que possuia patamar semelhante ao de marina foi leiloado pelo próprio partido em troca de cargos em um futuro governo dilma, caso esta se eleja. disso resulta a falta de debate real, e a parceria das auto proclamadas centro-esquerdas de pt e psdb com monstros corruptos da direita enrustida e ignorante, pmdb e dem. todos sabemos que curiosamente, o partido democrata e o partido do movimento democrático brasileiro acolhem grande parte dos antigos apoiadores da ditadura oficial miltar. talvez fosse melhor uma conversa entre pt e psdb para o futuro do país, talvez marina pudesse fazer essa ponte entre as melhores cabeças de cada partido. mas a própria idéia de pensar nessas coisas parecerá bizarra pois nos acostumamos a pensar que o jogo já foi jogado. isso vai ser repetido em nossa cabeça tantas vezes que vai ficar difícil admitir que o futuro ainda não aconteceu e depende de nossos atos. a moda é ser agressivo e dissimulado, todos querem lobos em pele de cordeiro.
como ministra, dilma era impositiva e pouco aberta ao diálogo. obediente ao patrão, era o trator, a face menos simpática do “lulinha paz e amor” especialmente no que concernia na relação entre poder executivo e congresso. agora foi imposta como candidata dentro do próprio pt, que por sua vez vem impondo candidatos nos estados para criar seu palanque, ainda que alguns deles estejam muito distantes dos ideais pregados historicamente no partido(link so). dilma impôs e foi imposta, não surgiu das bases nem tem tempo de partido(a candidata se filiou ao pt em 2001).
sobre dilma
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dilma_Rousseff (ok eu sei que a wiki pode receber mentirinhas, mas vá lá)
sobre hélio costa
josé serra por sua vez decidiu desde a juventude que seria presidente, sabe-se lá o porque desse desejo. como governador reprimiu grevistas e favelados, não era dado a conversa mas são paulo é um estado rico, como diria o getúlio vargas (aquele outro ditador democrático). ali não há bom debate político pois há muita grana ela é o que comanda, pobres não precisam ter voz ou vez e a classe média não pode reclamar por viver melhor que a média do país envolta. como diz um amigo próximo, apenas dois de nossos presidentes chegaram ao cargo pelo mero capricho de ocupar o cargo maior da nação, jânio e collor, quem tem alguma memória que tente se lembrar o que houve com eles e com o Brasil.
sobre jânio e collor
sobre serra



finalmente, trazendo o tema à minha “aldeia”, a doce e boba belo horizonte, uma região metropolitana do tamanho de madrid com o dinamismo de tegucigalpa, sem ofensas a mineiros e/ou hondurenhos. temos atualmente uma administração municipal que deveria dar classes de ditadurismo democrático para o mundo inteiro, e que encontra fieis defensores entre alguns de seus cidadãos. eleito de maneira condicional e turbulenta, o candidato foi uma construção artificial que passou apertado ao segundo turno mesmo apoiado por políticos poderosos. uma escolha de sofia para belo horizonte, o prefeito márcio lacerda e seus lacaios jogam no lixo a tradição de administração partilhada da cidade, ignoram desejos da população, pois, como bom tecnocrata, acha que sabe melhor que as pessoas o que elas realmente necessitam. fiscais da prefeitura vêm servindo para repressão de manifestações políticas legítimas e pacíficas no centro da cidade. desviados inclusive de sua função original, tentaram até impedir também que índios e artistas vendessem artesanato em eventos recentes, além de botar em prática uma lei esquecida(sim tal lei existe!) proibindo o uso de bolas, bicicletas e pipas nos parques cada vez mais descuidados da cidade, além dos animas de estimação. proíbiram eventos em áreas criadas para tal fim no meio urbano, depois voltando atrás diante da pressão popular, mas instituindo taxas altíssimas para usufruo dos espaços públicos (públicos?!). tentam agora votar leis permissivas para a última grande área de baixa ocupação no município, pressionando vereadores a votar projeto às pressas. não, não não, não, não, eis o recado atual da prefeitura.
o metrô prometido não chega jamais, a qualidade de vida se deteriora, ao menos existe uma coisa, uma resistência latente que por vezes tem mostrado sua cara, enquanto lacerda parece que não deseja sequer a reeleição, tal a estupidez com que encara a cidade onde não mora (ele vive em um condomínio em nova lima, o alphaville...)
sobre resistência poética em belo horizonte

o que todas estas situações tem em comum? é que se parte do simples preceito de que há eleições onde todos podem votar e que o voto de todos tem igual valor para se dizer que vivemos em plena democracia . para legitimar ações dos eleitos sem entender que toda eleição possui um contexto que torna o jogo político desigual para candidatos, que isso pode influir na condução de um ou outro despreparado ao poder, ou um montão deles como parece ser o caso do brasil! o maior dos despreparos é crer que após eleito, sem pensar nas condições anteriores, posteriores ou que atravessem o tempo, o candidato tem o poder de agir da maneira que bem entende em nome dos cidadãos dos quais recebeu os votos. a boa notícia é que as didaturas democráticas são por natureza enrustidas, não querem se assumir plenamente, o que dificulta que seu aparato apague oficialmente os preceitos democráticos contidos em algumas instituições. a democracia pelo contrário deve ser gritada aos quatro ventos, conquistada todos os dias. ainda que sejam esquecidos, tais preceitos se mantem como força latente, fio de ariadne que pode conduzir cabeças pensantes e questionadoras. repito, tecnocratas de direita ou esquerda precisam parar com a mania de achar que sabem o que as pessoas necessitam, mais do que as próprias pessoas.
dicionário: 

-burrice legalista
instrumento usado por burocratas ignorantes e/ou mal intencionados com o objetivo de desqualificar todo tipo de contestação a suas atitudes com base em detalhes de legislação dando a estes importância maior que aos fatos.

-desobediência civil
            instrumento anti legalista de pressão que ainda assim pode ser legitimamente democrático, ou em palavras mais simples, desrespeito à lei para que a lei se torne mais próxima dos desejos da população. atualmente há exemplos acontecendo em todo o território do brasil em greves de professores e outras categorias, em intervenções poéticas anti políticas de gentrificação, em cada palavra e pensamento de resistência ao status quo repressor.


Um comentário:

  1. "A hipocrisia vai vencer, vou sorrir pra você.
    Será uma festa em meio ao caos e as pessoas feias pagarão.Pois somos os eleitos"

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