sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

sobre passado, presente e futuro…(post antigo de um blog amigo)


nos anos oitenta, sob os protestos da população foi demolido o belíssimo cine teatro metrópole para dar lugar a um ridículo edifício bancário do bradesco. o metrópole, construído no lugar de nosso antigo teatro municipal possuía belíssimo projeto arquitetônico de raffaello berti, um dos fundadores da nossa escola de arquitetura da ufmg – a primeira do país – e pioneiro modernizador da arquitetura de belo horizonte ante ao ecletismo dominante.
há alguns anos atrás fomos surpreendidos pela triste notícia do fechamento do itaú cultural em belo horizonte localizado na rua do tupis bem próximo ao que foi o metrópole, ainda sob os apelos da classe artística de belo horizonte, naquela época carente de instituições culturais do gênero.
agora é a vez do instituto moreira sales, que no mês passado encerrou suas atividades em belo horizonte, assim como já havia feito em porto alegre, a instituição era notável e única por suas exposições na área de fotografia. atente-se ao fato de que a instituição criada pelos fundadores do unibanco concentra suas atividades culturais em são paulo justamente no ano em que tal banco, fundindo-se com o itaú cria a maior instituição financeira do hemisfério sul. para adoçar o natal(lembrem-se, a notícia é velha), recebemos então a notícia de que o cine usina unibanco – tradicional cinema de arte e promotor de um dos melhores festivais de cinema independente do país – está prestes a encerrar suas atividades diante do fim do contrato de patrocínio com -adivinhem! – o unibanco!
em pesquisa feita há alguns anos para identificar o perfil mais marcante da capital mineira foi detectado que tal caráter é inequivocamente o da cultura. apesar da proximidade com o magnético eixo rj/sp, que em um país periférico concentra a atividade e principalmente o financiamento da cultura, curiosamente bh segue produzindo e recebendo iniciativas do setor privado mineiro em produções de primeiríssima qualidade.
também há poucos anos foi criado um espaço livre enorme e ideal para apresentações ao ar livre, muito bem sucedido, se localiza em meio a diversos espaços culturais em área central da cidade, na praça da estação. outrora o lugar era um estacionamento e o seu fim não significou um colapso econômico ou de trânsito na área, ao contrário do que alguns acreditavam. um raro exemplo em que o poder público identificou uma demanda da população (é verdade que com o apoio de ângela gutierrez) para produção do espaço de nossa cidade, que paulatinamente vem perdendo sua qualidade de vida em prol da indústria automobilística. a escassez de espaços de lazer passivo – locais de encontro – nos leva a uma contraditória relação com os poucos que temos em bh. não raro é proibido deitar na grama, fazer piquenique, fazer barulho, etc, justamente nos locais onde tais atitudes não possuem caráter utilitário, de mercado, mas sim do lazer livre, gratuito e democrático, algo que mesmo em uma cidade atualmente empobrecida como buenos aires seria impensável ocorre aqui em um período de gastos faraônicos em obras “públicas”. fica no ar a pergunta, estamos fazendo nossa cidade para as pessoas que vivem nela? Qual é a perversidade de se possuir parques e praças para se ver de dentro do carro?
recapitulando, no caso dos bancos privados digo que é completamente injustificada a atitude diante do país ao se afastarem de uma atividade tão irrisória frente a lucros bilionários sempre divulgados com alarde,. atividades culturais que aliás descontam dos impostos mantendo apenas presença regular nas cidade onde pretensamente têm visibilide(publicidade). no caso de nossos agentes políticos fica um alerta e uma esperança, já moribunda, de que atendam aos apelos das pessoas que votaram neles para transformarem a nossa cidade segundo os desejos das pessoas que nela vivem, e não por razões eleitoreiras e tecnocráticas. no caso de todos nós peço o empenho que não tivemos em outros momentos para preservar aquilo que nos é tão caro e que, uma vez perdido dificilmente se recupera.
ps – a orquestra filarmônica de minas gerais, uma das melhores e mais jovens do Brasil teria sua sede no alardeado circuito cultural da praça da liberdade, o projeto vencedor de um concurso seria uma das melhores realizações de arquitetura contemporânea no Brasil e de arquitetos brasileiros. diante da impossibilidade de a obra ser terminada na administração aécio neves devido a trâmites burocráticos delicados e ao arrojo arquitetônico decidiu-se pela invenção de um museu para ocupar o mesmo espaço pois este ficará pronto em tempo da propaganda eleitoral. a orquestra se encontra sem sede oficial e sem perspectivas sólidas nesse sentido.
as antigas sedes do itaú cultural e do ims se encontram vazias.
sobre o fechamento do usina unibanco de cinema:
http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=10255
sobre a proibição de eventos na praça da estação, agora ela virou praia!!!!! vejam vocês:
surfe da praça da estação!!!
flor de maio

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

morte e vida severina


em primeiro lugar, devo me desculpar por ter me retirado por um tempo tão longo. sabem como é, fim de ano, interior de minas, cidade linda no meio das serras pedregosas, velhos simpáticos e sabidos, sítios em vilarejos bucólicos... se não sabem vou rezar pra que um dia descubram.

em pleno domingo e com uma ressaca que não chega a ser digna da abertura de uma nova década, sou acordado pelo celular. quem ousaria me acordar às 9 da madrugada?! um amigo querido, não atendo, depois ligo de volta e se for importante ele vai insistir. ele insiste e atendo. vem me perguntar sobre o deslizamento em angra dos reis, assunto batido e por isso mesmo, ao qual eu não havia dado a menor atenção em meu recesso "filosófico". ele me conta que um nosso colega estava lá e escapou, me pede notícias dos outros imaginando que talvez eu soubesse algo mais. ou só por querer conversar e ver que ao menos com alguém as coisas andavam tranquilas. no acidente morrera uma colega que eu não tive oportunidade de conhecer. se estivesse viva é possível que jamais soubesse quem era. o diabo é que para o tempo não existe "se", existe o passado que é irreversível e a nossa impotência enorme diante dele, somada à obrigação pesada do futuro.

http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4183304-EI8139,00.html
(eis o ocorrido, para os ainda mais alienados que eu, para quem acreditar em jornal)

andei pensando em religião, em deus. não acredito em religião e desconfio deus. não, não cometi um erro ortográfico. desconfio deus pois fui criado católico em uma velha cidade mui católica, a mesma cidade de onde mirava a lua ainda ontem. desconfio deus pois olho pros cachorros e fico pensando que eles não entendem muito do que se passa à volta deles, do que os humanos fazem com eles lhes metendo injeções e coleiras de cheiro forte. simplesmente porque temos um cérebro mais ágil e somos "seres culturais". aquele papo de "penso logo existo" me leva ao "penso logo o pensamento, a cognição é possível. se existem graus de cognição, logo uma cognição ainda mais complexa e que não caiba em minha cabecinha curiosa(como a de um cachorro) pode existir. também não tenho razão alguma para ter certeza absoluta de algum tipo de divindade, ou de algum tipo de esfera sobrenatural. estou certo de que em religiões não acredito e de que converso com deus o tempo todo. isso tudo é natural ante à moral católica sob a qual nasci e cresci, da qual certamente guardo muita coisa sabida e escondida. converso com deus pois é meu jeito de viver minha solidão e isso pouco tem a ver com a existência de um interlocutor além de mim mesmo.

mas vejam como somos egoístas e materialistas. vejam como a morte é um mal que está dentro do peito de quem fica. é curioso e alguns julgam errado, o alívio que sentimos ao saber que conhecido algum estava no acidente, eu digo que certamente isso tem sua lógica. morte é coisa certa, mas jamais esperada de fato, sofrimentos devem ser escritos assim, no plural pois ao longo da vida vamos nos equilibrando entre um e outro até o dia em que caímos, não há ser que possa suportar toda a dor que há no mundo.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,



morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

(trecho de Morte e Vida Severina, por João Cabral de Melo Neto)


e só assim conheci um pouco da yumi...

não me espanto com a falta de tato da imprensa diante do caso. já vi tragédia semelhante acontecer com um amigo falecido e já sabia como a coisa se dá, sei também da absoluta miséria editorial dos grandes veículos de imprensa em nosso país. não saberemos jamais o que se passou ali. ainda que tentemos nos aliar nessa dor aos parentes, aos amigos, aos que presenciaram a tragédia. pura ilusão que, pelo menos, ajuda a vender pra nós os mesmos jornais que criticamos. não vou me iludir em tentar consolar qualquer pessoa. ou vou e não vai dar certo. mesmo quem se diz desapegado tem lá seus amores e suas saudades. que chore muito quem tiver vontade. não resolve mas atende à ânsia do instinto.

neste ano novo três pessoas caíram da corda bamba. se estivessem dormindo em outro quarto, se houvessem ido àquela festa na cidade, se, se, se... não há. Como disse o Marquês de Pombal* "enterrem os mortos e alimentem os vivos" . a semana começou, temos trabalho a fazer, contas a pagar, férias para adocicar e mais um monte de coisas e tragédias que vão nos mostrando a cada dia que a vida muda muito pouco, e que o imprevisível é a unica coisa com a qual sempre podemos contar.
até o reveillon de 2011.

*em 1755, no dia de todos os santos, lisboa sofreu um dos maiores terremotos relatados na história. após os tremores que provocaram incêndios e mortes principalmente nas igrejas abarrotadas de fiéis, muitas pessoas se refugiaram na esplanada da parte baixa da cidade. após alguns minutos, tsunamis tomaram essa mesma esplanada, matando mais pessoas que o próprio terremoto. o marquês de pombal era então apenas um funcionário do rei. inquirido sobre o que fazer diante da situação pronunciou a célebre frase citada no texto. esse terremoto foi citado em muitos escritos iluministas por toda a europa, determinou muitos fatos da história posterior de portugal, e do brasil. inclusive que o pombal virasse o marquês.

o marquês de pombal
flor de maio